A
eleição municipal do ano que vem deve servir de cenário para o primeiro ato do
processo de divórcio entre PMDB e PT. O partido do presidente da Câmara,
Eduardo Cunha, e do vice-presidente Michel Temer quer usar as disputas
municipais como ensaio geral para a corrida pelo Planalto, em 2018. Por isso,
deve ampliar o número de candidatos próprios. Consulta a líderes e dirigentes
partidários nos estados mostra que a expectativa é que petistas e peemedebistas
se enfrentem em, pelo menos, 13 das 26 capitais. Em 2012, foram só oito duelos
entre as duas siglas nessas cidades.
O
projeto de independência do PMDB ainda levará à redução das alianças entre os
dois partidos. Nas últimas eleições municipais, as siglas estiveram juntas em
oito capitais; agora, devem manter a união em, no máximo, quatro. Além disso,
os peemedebistas, que apoiaram quatro candidatos do PT em 2012, não têm, no
quadro atual das negociações políticas, perspectiva de estar em nenhuma chapa
que tenha um petista na cabeça.
De
olho na disputa presidencial, o PMDB montou um grupo para viabilizar o maior
número possível de candidaturas em 2016.
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As eleições municipais vão servir para alicerçar o nosso projeto de concorrer
competitivamente em 2018 - afirma o ex-ministro Moreira Franco, presidente da
Fundação Ulisses Guimarães, ligada ao PMDB, e responsável por coordenar o
projeto do partido para as eleições municipais.
O
líder do partido no Senado, Eunício Oliveira (CE), fala em lançar entre 18 e 20
nomes nas capitais. Em 2012, haviam sido 12 candidatos próprios. - E não tenho
dúvida que entre 12 e 15 dos nossos serão candidatos competitivos - diz
Eunício, que defende a saída do PMDB do governo federal após as eleições
municipais. No PT, a ordem é evitar polêmica com o PMDB.
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Acho legítimo que o PMDB queria construir o seu caminho próprio e imagine que
ter muitas candidaturas no ano que vem ajude nesse caminho para 2018 - diz o
líder do PT no Senado, Humberto Costa (PE).
Dentro
do partido da presidente Dilma, há quem defenda a necessidade de ampliação do
número de candidaturas próprias para que o projeto político da legenda possa
ser defendido neste momento de crise do governo federal.
O
momento acaba fortalecendo mais o cenário de candidaturas próprias - avalia o
secretário de organização do PT, Florisvaldo Souza, para quem o total de
candidatos petistas nas capitais capitais pode chegar a 17 (mesmo número de
2012).
O
plano de independência peemedebista deve ter um efeito mais direto nos estados
de São Paulo, Rio, Minas e Bahia,, tidos como estratégicos por Moreira Franco.
Na
capital paulista, o acirramento dos ânimos entre os dois partidos nos últimos
meses no plano federal provocou uma mudança do quadro que havia sido traçado
pelos petistas. O prefeito de São Paulo, Fernando Haddad (PT), havia convidado
Gabriel Chalita (PMDB) para assumir a secretaria de Educação do município no
começo do ano passado. Pretendia tê-lo como seu vice em 2016, numa tentativa de
ampliar o tempo de televisão no horário eleitoral.
Mas,
nos últimos dias, dirigentes peemedebistas em São Paulo intensificaram as
negociações para o ingresso da ex-petista Marta Suplicy no PMDB. A filiação
pode ser ser anunciada nas próximas semanas.
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A Marta está conversando e tem todas as condições de ser uma candidata forte -
afirma Eunício. Dirigentes do PT em São Paulo já reconhecem que, no momento, é
pouco provável a aliança com o PMDB.
No
Rio, a relação, que já era tensa por causa do movimento de um grupo de petistas,
liderados pelo ex-governador gaúcho Tarso Genro e pelo senador Lindbergh Farias
(RJ), em favor do rompimento da aliança, ficou ainda mais estremecida com a
declaração de guerra ao governo de Eduardo Cunha, um dos principais nomes do
partido no estado. O presidente do PT fluminense, Washington Quaquá, ainda
trabalha para reverter o quadro e manter a parceria na disputa do ano que vem.
O prefeito Eduardo Paes (PMDB) planeja lançar o secretário de Coordenação de
Governo da prefeitura, Pedro Paulo, como candidato à sua sucessão.
Em
Salvador, o PMDB negocia a filiação do prefeito da cidade, ACM Neto, hoje no
DEM. Mesmo que a transferência não se concretize, os peemedebistas devem apoiar
a sua reeleição. Já o PT planeja ter um candidato próprio.
Fonte:
O Globo